quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

MANIFESTAÇÔES CONTRA OS DESGOVERNOS.

Questões Urbanas

Vítimas das enchentes protestam nesta quinta, 19, no centro do Rio

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Terça, 17 Dezembro 2013
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A manifestação é organizada pelo Comitê de Bacia Hidrográfica da Baía da Guanabara. Confirmada a participação de moradores de Acari, Vigário Geral e Complexo do Alemão.

O Comitê reuniu farta documentação, com vídeos e fotos das áreas atingidas. A maior parte dos prejuízos é atribuída à má utilização das verbas liberadas pelo governo federal ao estado e municípios. Existem denúncias de “falta de planejamento e de participação popular na definição das áreas a serem beneficiadas por obras e projetos, desperdício dinheiro público, remoções arbitrárias e indenizações irrisórias provocadas por obras do PAC, do Morar Carioca e do Prosam” – conforme relatório.
Participam do ato público agricultores familiares de Cachoeiras de Macacu, ameaçados de remoção pela construção de mega-barragem para abastecer a refinaria da Petrobras/Comperj. Também pescadores artesanais. Eles asseguram que a dragagem da Baía da Guanabara está contaminando a lama com metais pesados que são “lançados na entrada da baía, poluindo as praias e prejudicando a pesca.
O Comitê da Bacia Hidrográfica da Baía da Guanabara recebeu na semana passada a visita da Relatora da ONU para Água e Saneamento, Catarina de Albuquerque. Em São João de Merití e no Complexo do Alemão ela viu de perto os riscos a que estão expostos os moradores e constatou a ineficiência das obras em andamento. No dia 19, Catarina  deverá entregar seu relatório na sede da ONU.
O ato está previsto para começar às 13h30, na quinta-feira, 19. Ponto de encontro: Avenida Presidente Vargas, 2655 - Cidade Nova, no Rio.
Fonte: Agência Petroleira de Notícias

TUCANALHAS.

Nacional

Propinoduto tucano no STF; domínio do fato pode pegar Serra e Alckmin

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Quarta, 18 Dezembro 2013
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O ex-diretor da Siemens, Everton Rheinheimer, afirmou em depoimento sigiloso à Polícia Federal ter ouvido de um diretor da CPTM que políticos ligados ao governo de São Paulo recebiam propina de empresas do cartel dos trens.
Por Valor Econômico, com agências

Entre os citados, estão dois secretários de Estado do governo de Geraldo Alckmin (PSDB): Edson Aparecido (PSDB), chefe da Casa Civil e número dois do governo, e Rodrigo Garcia (DEM), secretário de Desenvolvimento Econômico. Rheinheimer afirma que o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP) e o deputado estadual Campos Machado (PTB), também recebiam suborno do esquema. As informações são do jornal “Folha de S. Paulo”.

O depoimento com os nomes foi o segundo que o ex-diretor prestou à PF num acordo de delação premiada em troca de uma pena menor.

Por conta desses novos indícios, a Justiça Federal em São Paulo enviou a investigação para o Supremo Tribunal Federal (STF). Os parlamentares só podem ser investigados em inquérito conduzido pelo Supremo.

Rheinheimer também participou do esquema de pagamento de propina e temia ser punido por isso. O executivo disse, porém, não ter provas contra os políticos.

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11/12/2013 às 05h00

Vara Federal envia inquérito do caso Siemens para o STF

Por Carmen Munari | De São Paulo

A Justiça Federal enviou ao Supremo Tribunal Federal o inquérito policial que investiga a prática de cartel nas licitações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). O possível esquema atuou por um prazo de dez anos, de 1998 a 2008, período dos governos do PSDB de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. Ontem, em nota, a Justiça Federal afirma que o inquérito apura, entre outras práticas criminosas, supostos pagamentos de propina a funcionários públicos.

“O inquérito policial foi remetido ao Supremo Tribunal Federal em razão de ter sido mencionada a eventual prática de infrações penais por autoridades detentoras de foro por prerrogativa de função perante aquela Corte”, justifica a nota da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

A instância do foro privilegiado atinge autoridades como governadores, deputados e ministros, entre outras. Não há divulgação dos nomes porque o caso corre em segredo de Justiça.

A Justiça esclarece que a remessa dos autos ao STF não implica reconhecimento “da existência de indícios concretos de práticas criminosas pelas autoridades referidas, fundamentando-se apenas no entendimento de que compete ao STF supervisionar eventuais medidas investigatórias relacionadas a tais autoridades”.

A denúncia da formação de cartel nos contratos do Metrô e da CPTM veio a público pela imprensa em julho a partir de relato da multinacional alemã Siemens, uma das empresas do conluio, ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Participavam do esquema mais de uma dezena de companhias do setor metroferroviário. Além do Cade, o Ministério Público e a Polícia Federal também investigam o caso.
Retirado do site Viomundo.

A MESMA CHEVRON DE SEMPRE.

Urgente

Equador e a "mão suja" da Chevron

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Segunda, 16 Dezembro 2013
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No Equador, várias comunidades indígenas acusam a Chevron de destruição ambiental e de danos à saúde de milhares de pessoas. Por Ignacio Ramonet.
Durante sua recente visita oficial à França, o presidente do Equador, Rafael Correa, se reuniu em Paris com um grupo de intelectuais para expor uma das preocupações de seu país: o conflito que opõe várias comunidades indígenas da Amazônia equatoriana à empresa petrolífera americana Chevron, acusada de destruição ambiental e de danos à saúde de milhares de pessoas. Em escala internacional, este conflito ecológico adquiriu um caráter muito emblemático.

O Equador - primeiro país do mundo a reconhecer, em sua Constituição, os inalienáveis direitos da natureza, convertendo esta em assunto de direito -, enfrenta uma multinacional petrolífera, a Chevron Corporation, que é a segunda mais importante dos Estados Unidos e a sexta do mundo, denunciada por múltiplos casos de contaminação do meio ambiente em diversos lugares do planeta.

"Tudo começou em 1964 - explica Rafael Correa -, quando a empresa americana Texaco (adquirida em 2001 pela Chevron) iniciou sua exploração pterolífera em uma ampla zona da Amazônia equatoriana. Essa atividade durou até 1992. No ano seguinte, as comunidades amzônicas da província de Sucumbíos apresentaram, nos Estados Unidos, uma demanda contra a Texaco, por contaminação ambiental e atentado a saúde dos habitantes. Ou seja, deve ficar claro que não é o Estado equatoriano que leva a Texaco-Chevron aos tribunais, mas sim cidadãos vítimas de um crime ao meio ambiente. A Chevron herdou essa demanda quando comprou e absorveu a Texaco em 2001. Pouco depois, a petição da própria empresa, o caso - que os tribunais dos Estados Unidos se negaram a julgar - foi transferido para uma corte do Equador."

"É importante lembrar - aponta o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, presente na mesma reunião - que a Texaco, antes de se retirar completamente do Equador em 1992, disse ter 'limpado' os dois milhões de selva virgem em que operou. A afirmação é falsa. Pois todos esses terrenos, como qualquer testemunha pode comprovar, encontram-se totalmente degradados, com dezenas de aterros de alcatrão que contaminaram rios e aquiferos. A água, em toda essa região, não é apta para consumo. O número de casos de câncer multiplicou entre a população. Em toda essa selva, a excepcional biodiversidade foi simplesmente assassinada."

"E o pior - assinala Correa - é que o governo equatoriano da época assinou com a Texaco, em 1998, um 'ato de liquidação', em que reconhecia que a empresa havia deixado 'tudo limpo', e a exonerava de qualquer responsabilidade sobre as consequências futuras em seus excessos petrolíferos. Isso é muito importante, pois dá à Texaco-Chevron um argumento enorme. Em caso de demanda contra ela, a empresa pode dizer - e já o fez! "Eu entreguei tudo limpo. Assim foi reconhecido oficialmente pelo Estado equatoriano. Em consequência: qualquer condenação contra mim deve ser assumida pelo Estado do Equador, pois ele é o responsável pelo que ocorreu nesses terrenos após minha partida."

Ainda segundo Correa: "A Corte Provincial de Sucumbios, em janeiro de 2012, condenou a Chevron a pagar uma indenização de 9,5 milhões de dólares por ter causado um dos 'maiores desastres ambientais do mundo' entre 1964 e 1990. Uma soma que se duplicaria - e alcançaria 19 milhões de dólares - caso a empresa não apresentasse desculpas nas semanas seguintes à sentença. Mas a Chevron, para desprestigiar essa decisão judicial e evadir sua responsabilidade, alegou que, nesse julgamento, os advogados haviam falsificados os dados e pressionado os peritos científicos para encontrar contaminação onde não havia. E apresentou um recurso de cassação na Corte Nacional de Justiça."

"Ante essa situação - prossegue o chanceler Ricardo Patiño - a Chevron decidiu amparar-se em um tratado de proteção recíproca de inversões firmado entre Equador e Estados Unidos, que entrou em vigos em 1997. Mas esse tratado, na nossa opinião, não concerne a este caso, pois as demandas das comunidades indígenas contra a Chevron vem desde 1992, e o tratado, estabelecido posteriormente, não contempla aplicação retroativa."

"Com esse argumento - explica Correa - a Chevron acudiu à Corte Permanente de Arbitragem de Haia, a qual nomeou, como é habitual nesses casos, um tribunal específico para o assunto. Esse tribunal é composto por três juízes, designados (e pagos) pelas partes em litígio; um pela empresa, outro pelo país e o terceiro pelos outros dois juízes anteriores. Aqui também o poder judicial equatoriano cometeu um erro, pois designou um dos juízes, dando a impressão que o Equador aceitava esse tribunal de arbitragem. Quando, na realidade, nosso governo rechaça esse tribunal."

O tribunal de arbitragem alega que o Equador violou o tratado bilateral de inversões entre Quito e Washington, segundo o qual o Equador deve 'tomar todas as medidas ao seu alcance para suspender ou fazer que se suspenda a execução ou o reconhecimento dentro ou fora do Equador de qualquer sentença contra uma empresa americana.

Em resoluções anteriores, esse tribunal já havia advertido que 'qualquer perda surgida da execução da sentença da Corte de Sucumbios seria uma perda pela qual o Estado equatoriano seria responsável, sob diretrizes do direito internacional.'

O presidente Rafael Correa retoma a palavra para explicar que "as decisões do tribunal de arbitragem de Haia foram rechaçadas pelo nosso governo. Primeiro, porque Equador, como Estado, não está implicado nesta querela. Defendemos os direitos das comunidades indígenas afetadas pela contaminação e vítimas dos desmandos de uma multinacional petrolífera. Mas não somos partes em um pleito. E por respeito ao princípio democrático da separação de poderes, não queremos nos intrometer em assuntos do ramo judicial."

Contudo, observamos que, no marco atual da desapropriação da soberania dos Estados, os tribunais de arbitragem possuem cada dia mais poder. Cada vez mais, estão ficando a favor das corporações multinacionais. E se não acatar a decisão do tribunal de arbitragem, o Equador poderia ficar isolado comercialmente e politicamente.

Tudo isso é triplamente escandaloso, porque se a decisão do tribunal de arbitragem se aplicar, o Equador estaria violando sua própria Constituição, pois significaria que nosso governo estaria interferindo com o Poder Judiciário. A Chevron não apenas ficaria exonerada de pagar pela limpeza da floresta e pela reparação às comunidades afetadas, como também poderia demandar pagamentos do povo equatoriano como custo legal do litígio.

Consideramos que este caso não é jurídico, mas político: contra nosso governo - conclui o presidente Rafael Correa. "Por isso apelamos à solidariedade internacional. Em todas partes estão se constituindo Comitês de apoio à nossa Revolução Cidadã. E convidamos todos nossos amigos e amigas, da Europa e de todo o mundo, a expressar igualmente seu rechaço à prepotência daquelas empresas multinacionais que destroem o meio ambiente e não assumem suas culpas. A 'mão suja' da Chevron não deve ficar impune".


Tradução de Rodrigo Giordano.
Fonte: Carta Maior

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O MUNDO DO FUTEBOL.

Nacional

Os Boias-frias do futebol

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Segunda, 02 Dezembro 2013
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A Pública visitou o universo dos pequenos times e dos jogadores profissionais desempregados e subempregados que o Bom Senso F.C denuncia. Abuso é pouco, constatou
 

Terça-feira de manhã, céu nublado, aquele “chove-não-chove” no ar. A reportagem da Pública está em Mauá, município da Grande São Paulo, para acompanhar um jogo de futebol sem torcida, estrelado pelo Grêmio Esportivo Mauaense, da Segunda Divisão do Campeonato Paulista, abaixo da Série A3. Com o objetivo de montar uma equipe para o próximo campeonato do primeiro degrau do futebol profissional, os jogadores de Mauá enfrentam um time de jogadores ainda mais frágeis: o dos desempregados, reunidos em uma equipe montada pelo Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo (SAPESP) para que eles possam manter a forma enquanto não voltam a jogar profissionalmente.

Ali não há fotógrafos, jornalistas, símbolos das federações, placas de publicidade. Ninguém está nas arquibancadas para vibrar pelas jogadas no campo deteriorado, cheio de entulho. Dois cachorrinhos brincam no fundo do “campo” do Estádio Pedro Benedetti, municipal, que fica escondido atrás de um distrito da Polícia Militar.

Mas não falta emoção em um jogo em que cada um luta por um lugar ao sol, pela remota chance de realizar o sonho de se tornar, ou continuar a ser, um jogador profissional de futebol. A Pública acompanhou a partida, vencida por 3 a 2 pelo Mauaense, assistiu a ótimas jogadas e ao golaço de Jorge, o craque do time vencedor, do lugar do quarto árbitro – privilegiadíssima posição em um estádio “de verdade”- e, como faziam os jornalistas esportivos de outros tempos, desceu aos vestiários para entrevistar os jogadores.

Não estávamos ali para fazer uma crônica da partida, mas para saber como é a realidade dos jogadores da base da pirâmide do negócio futebol. Saber o que esperam aqueles que não ganham salários milionários, não saem em capas de revista, nem vendem milhões de camisas com seus nomes estampados, cuja existência era ignorada pela mídia até recentemente, quando o movimento Bom Senso F.C – formado por atletas da Série A e B do Campeonato Brasileiro – girou os holofotes dos bons gramados para iluminar a dura realidade do mercado de trabalho de futebol brasileiro em que campinhos como o de Mauá e o desemprego como os atletas da equipe da SAPESP são bem mais numerosos que as camisas do times de elite.

A maioria dos garotos que encontramos nos chuveiros têm por volta de 20, 21 anos, “velhos” para iniciar a carreira no futebol, e estão longe de obter um contrato para valer em um clube profissional. Mas não desistiram do sonho como diz o meia-atacante Eddy Rocha, um baiano de 21 anos, da equipe da SAPESP: “Me indicaram pro time do sindicato aí e eu tô aqui agora, mantendo a forma pra me empregar”, diz. Antes de chegar ali, o morador do bairro da Plataforma, na periferia de Salvador, chegou a passar pelas categorias de base pelos principais times baianos – o Vitória e o Bahia – mas não conseguiu a vaga como profissional. Foi para Pernambuco jogar no Ferroviário do Cabo, time da segunda divisão pernambucana, uma experiência que ilustra um pouco pelo que passam os aspirantes ao futebol profissional.

“A gente não tinha cozinheiro, tinha que ir um rapaz entregar marmita pra gente: feijoada, saladinha e um suco, isso quando vinha. A gente dormia num tatame. Fizeram o pedido por beliche e não veio enquanto eu tive ali. Todo mundo ganhava um salário mínimo, que chegou a atrasar uns três meses. Só consegui me manter com a ajuda de um amigo de infância, de Salvador”, relembra Eddy.

Enquanto penava no Recife, Eddy recebeu de um empresário para participar de testes de dois times da Série A2 paulista , o Audax e o Grêmio Osasco, que pretendiam disputar o sub-21. Pela idade era a última chance de Eddy jogar nesse campeonato e ele se despediu da mulher e do filho de um ano no Recife e veio a São Paulo sozinho para tentar a sorte. A história, porém, era “uma barca furada”, como diz. Quando chegou, o período de testes tinha se encerrado e Eddy ficou sem chance e passou aperto até ser acolhido por um amigo em São Paulo. Não voltou para o Recife porque acha que lá ainda vai ser mais difícil realizar seu sonho. E aceitou as desculpas do tal empresário, que ainda tenta convencê-lo a assinar um contrato com ele. “Ele disse agora que quer fazer um DVD meu pra mandar pra uns clubes, me dar uma ajuda de custo. Mas é coisa só de boca né, aí fica difícil”, diz, relutante. Se nada der certo, Eddy, que estudou até a oitava série, diz que vai virar professor de Educação Física.

A VIDA DURA DO ATACANTE JORGE, O CRAQUE DA PARTIDA

Do lado do Mauaense, a coisa não vai muito melhor. O grande destaque da partida, o atacante Jorge de Araújo, de 26 anos, fez o gol de cobertura, e deu trabalho ao time adversário, com dribles, pivôs bem feitos e belas jogadas. Mas ele não conseguiu ir além no futebol profissional e agora o que o aguarda parece ser mais uma vez a Segunda Divisão paulista, pela qual disputou o campeonato deste ano pelo Mauaense por um contrato de três meses de 800 reais mensais. Que ainda não foram integralmente pagos.

Mas Jorge não desanima: “É aquela coisa. Três meses, mas nesses três meses você tem a chance de mostrar alguma coisa no futebol. É uma coisa precária, uma divisão muito difícil, mas a gente tá aí batalhando para conquistar o melhor. Quem sabe não aparece alguma coisa, alguém me vê jogar e eu posso ir pra um clube melhor?”.

O último salário dos três prometidos para o campeonato passado está atrasado, assim como o dos colegas de clube, que ganharam ainda menos: R$ 678,00, o salário mínimo. “Temos a promessa do nosso presidente, que falou que tá vindo o dinheiro, mas a gente continua esperando”, diz Jorge.

Para se manter num cenário de tanta instabilidade Jorge arrumou um bico: “Hoje eu tô trabalhando numa escolinha de futebol, dando aula pras crianças. Sou técnico de um time infantil também, fiz uns cursos aí. E tem a várzea né?”, conta. “Não gostaria de jogar na várzea, mas lá é dinheiro garantido, dinheiro na mão. Termina o jogo e tá lá o seu dinheirinho dentro do envelope. Aqui no profissional às vezes o mês tem 60, 80 dias. Então a gente não pode contar com o salário do mês. Aí a gente às vezes vai pra várzea, vai pra longe, faz de tudo aí pra se manter”, explica, referindo-se aos campeonatos de futebol amador, assim apelidados em São Paulo porque começaram a ser disputados nas várzeas dos rios paulistanos.

Hoje há campeonatos de várzea bem estruturados, como a Copa Kaiser, o principal campeonato amador da capital paulista que neste ano contou com 192 equipes em jogos que foram de março a outubro. “Na várzea, eu já peguei cinco mil pra assinar e mais 250 reais por jogo. É um dinheiro bom e sempre vem conforme o combinado. No profissional, muitas vezes eles te prometem um contrato e só pagam uma parte. O que vale mais a pena?”, pergunta Jorge, que foi campeão da Copa Kaiser deste ano pelo Leões da Geolândia, da Vila Medeiros, zona norte de São Paulo.

Como as premiações são pagas em dinheiro vivo, fica sempre a dúvida sobre suas origens. Mas fato é que a várzea funciona como alternativa ao vácuo de organização das divisões menores do futebol profissional. Jogadores que chegaram à Seleção Brasileira, como o atacante Leandro Damião, do Internacional, o volante Elias, atualmente no Flamengo, e o meia-atacante Denílson, este pentacampeão com o Brasil em 2002, jogaram a Copa Kaiser.

A falta de alternativas para quem busca ser profissional de futebol é tão grande para que os que ficaram fora das categorias de base dos times profissionais que alguns chegam a pagar – literalmente – para jogar, como conta Jorge, que já recebeu a indecente proposta. “Eu estava em Santa Catarina e um cara me pediu dez mil pra me colocar num time da Segunda Divisão do Catarinense. Aí eu fui pra lá, eu estava com dinheiro, mas eu vi que era uma barca furada e desisti”, diz. “Tenho amigos, por exemplo, que pagaram dez mil por um contrato de seis meses num clube. Só que aí eles vão lá, jogam, e acabam recebendo esses dez mil de volta nesses seis meses. Depois você vai embora, não é aproveitado. Fica tipo uma bagagem. Aí o cara fala: ‘Ah, eu joguei no clube tal…’ Jogou nada. Jogou porque pagou pra jogar”, afirma.

NA BASE DA PIRÂMIDE, TIMES SEM DINHEIRO NEM INCENTIVO

Por sua vez, o Mauaense sofreu um fracasso retumbante na Segunda Divisão Paulista. Nos dez jogos que disputou, perdeu oito e empatou dois, ficando em último lugar do grupo 08. Em termos de arrecadação, o desempenho também foi ruim: média de 96,5 torcedores pagantes por partida em casa e renda média por partida de R$ 859,25.

“O Mauaense precisaria de uns R$ 70 mil por mês para bancar atletas, comissão técnica, médico, material esportivo, viagem essas coisas. Eu gastei R$ 20 mil, que era o que eu consegui por um empréstimo com um amigo, de última hora. Tá muito deficitário, né? Relutei esse ano para não entregar o time na mão de um empresário”, conta o presidente do Mauaense, Marco Antonio Capuano, conhecido como Quinho.

Diante da fragilidade de muitos clubes profissionais e das cifras que giram em torno do negócio-futebol, muitos investidores se aproximam dos clubes menores. “Chega um empresário com dinheiro, sonhando com uma transação milionária [ de algum jogador ], e começa a arcar com as despesas do clube. Às vezes vende o jogador, o clube não leva nada, e depois de um tempo vai embora, geralmente deixando dívida pro clube pagar, como já fizeram com o Mauaense, principalmente trabalhista, porque os contratos são firmados com o clube e não com ele,”, resume o dirigente.

Na opinião de Quinho, o que falta para o Mauaense é visibilidade – termo que ele repetiu pelo menos quatro vezes na entrevista. “Quando as pessoas não enxergam aquilo que você está fazendo, fica difícil. Como eu vou chegar numa empresa aqui de Mauá se eles falam: ‘ah, mas você não dá retorno’? É isso que a gente precisa: retorno. Precisa a prefeitura de Mauá nos ajudar, abraçar o time da cidade, e a mídia local e a própria federação paulista fazerem um esforço maior de divulgação do que se faz aqui na Segunda Divisão”, opina. “A falta de público é falta de iniciativa”, diz. De quem? “De todos, mas principalmente da mídia, do poder público e da federação paulista”, resume.

A Pública procurou a Federação Paulista de Futebol para falar nessa reportagem, mas não obteve retorno da assessoria de imprensa.

QUANTO MAIS LONGE DO CENTRO, MAIS DIFÍCIL O SONHO

Em estados distantes dos grandes centros, os jogadores também precisam se virar ainda mais para jogar o ano inteiro. “Quando termina o campeonato paraense aqui em Belém (PA), se a gente não consegue renovar o contrato, temos que ir para Macapá (AP) e jogar os outros três meses”, conta o belenense José Romeu Tavares, de 28 anos. O campeonato paraense foi de janeiro a junho e o amapaense, de julho a outubro. “A partir de dezembro começa a pré-temporada para o paraense, aqui em Belém e [ os clubes ] começam a contratar. Aí os jogadores voltam para não ficarem parados.”

Isso significa que muitos jogadores não têm férias entre as temporadas. Romeu se machucou no fim de 2012 e teve que passar por uma cirurgia no joelho. Ele ficou se recuperando durante o primeiro semestre deste ano, e jogou apenas o segundo, pelo Ypiranga, de Macapá. “Graças a Deus tive ajuda de amigos, da família que me ajuda e tenho um dinheiro que eu sempre deixo guardado, porque a gente nunca sabe.” Agora já retornou para Belém para a pré-temporada.

Situações como essa são comuns no Pará. O zagueiro Bruno Oliveira de Andrade, colega de Romeu no Ypiranga, não conseguiu firmar contrato para jogar no primeiro semestre. “Temos que dar uma economizada para sobreviver esses meses. Trabalhei em várias coisas: como motorista, até ajudante de pedreiro para ganhar um dinheirinho.” Romeu conta que muitos amigos desistiram do futebol porque precisavam sustentar suas famílias. Mas Bruno não quer seguir esse caminho. “Quando você fica três, quatro meses parado, passam várias coisas na cabeça da pessoa. Já pensei várias vezes em parar por causa da esposa, do filho. Continuo porque tenho condições de chegar em um lugar melhor. No futebol, do dia para a noite podem acontecer coisas melhores, você pode ficar bem. Meu sonho é ser campeão por uma equipe grande do Rio, de São Paulo, até de fora, conseguir sair daqui do estado.”

Em 2013, o Ypiranga teve apenas 23 jogos, dos quais 3 foram amistosos 20 oficiais (14 no estadual e 6 na Série D do Campeonato Brasileiro). O time sobrevive com uma média de 8 a 10 mil reais mensais que recebe da loteria esportiva Time Mania, além de um repasse anual de R$ 50 mil do estado do Amapá.

“Muita coisa o presidente tem que tirar do bolso”, diz o diretor administrativo do clube, Claudio Celio Góes Conrado. “Se não tem campeonato, não tem como manter o time [ durante o ano ]. A gente monta a equipe para jogar três meses se for só o estadual, e cinco meses se tiver a série D do Brasileiro”. Como na maioria dos times pequenos, os contratos de jogadores e patrocinadores vigoram apenas durante os campeonatos. “É complicado conseguir patrocinadores pela questão da credibilidade que a gente foi perdendo ao longo dos anos”, conta o dirigente. O time, fundado em 1963, possui sete títulos do campeonato amapaense, mas não ganha desde 2004.

FRANCESES EM SERGIPE?

Na segunda divisão de Sergipe, a situação é semelhante. “Os nossos campeonatos não são rentáveis, não temos patrocínios para realizar a competição, não temos grandes públicos nos estádios. O campeonato não é atrativo em termos de jogadores, já que a média salarial é baixa. Falta credibilidade frente aos torcedores porque não tem boas equipes”, descreve Diogo Andrade, diretor do departamento técnico da Federação Sergipana de Futebol. De acordo com ele, a média de público para jogos da Primeira Divisão do campeonato estadual varia entre 800 a 1000 pagantes, enquanto na Segunda Divisão é de 150 a 200 pessoas.

Fundado há 96 anos em Maruim, no interior de Sergipe, o Maruinense teve apenas 8 jogos em 2013. Com R$ 50 mil reais de patrocínio para todo o ano, o clube tenta diversificar sua receita fazendo parcerias com times de outros estados e busca outras fora do país. “Nós estamos firmando um projeto de clube-escola, em que vamos receber jogadores franceses, treinar e mandar pra fora. Além disso, estamos negociando com amigos meus na Ponte Preta, na Portuguesa e no Palmeiras para mandarem jogadores de 20, 21 anos que não estão sendo usados nos times de base”, explica Manoel Rodrigues Neto, presidente do clube. Ele conta que o time já revelou jogadores conhecidos como o atacante Oséas, que jogou pelo Atlético Paranaense, Cruzeiro e Palmeiras, na equipe que conquistou a Libertadores, em 1999.

“Meu sonho é colocar o Maruinense na série B do Campeonato Brasileiro, em um nível mais alto”, conta o dirigente do time que hoje disputa a Segunda Divisão do campeonato sergipano. Mas, para o zagueiro Felipe Severo Santana, de 25 anos, que já jogou no São Caetano e no Atlético Paranaense, o clube precisa melhorar sua estrutura para fazer frente aos times de elite. “Nesses times tinha mais profissionais, alimentação de qualidade, já aqui é meio carente. Aqui tem que ser guerreiro”, opina o jogador, que já trabalhou até em uma loja de sapatos enquanto ficou parado no futebol. “Já pensei em desistir muitas vezes. Futebol é injusto demais”, afirma.

Para Diogo Andrade, da federação sergipana, o maior problema é a incompetência administrativa” dos clubes. “Os clubes precisam ir atrás de patrocínio e trabalhar dentro do que arrecadaram, fazendo um orçamento. Aqui, primeiro se forma a equipe, pra depois pensar em uma forma de pagar.” Para ele, os campeonatos deveriam ter menos equipes que deveriam passar por um filtro das federações “exigindo um profissionalismo, para que não acumulem dívidas com os funcionários”, diz. “Eu já vi clube lamentando porque ia para a decisão da segunda divisão campeonato porque ia ter mais 15 dias de despesas”, relata, inconformado. Ele cita como bom exemplo de administração o caso do River Plate de Sergipe, que diante da possibilidade de disputar o Campeonato Estadual, a Copa do Nordeste e a Copa do Brasil, desistiu dos campeonatos oficiais por falta de condições financeiras.

Em termos financeiros, explica Diogo, vale mais a pena disputar o campeonato sergipano do que o nacional. “O estadual dá vaga para duas competições nacionais: Copa do Nordeste e do Brasil. Jogando dentro do estado a despesa é menor, por isso o lucro é maior do que no Brasileiro. E você tem certeza que o campeonato dura de janeiro a maio, pode contratar um atleta sabendo que vai cobrir todas as etapas do contrato do jogador. Já no brasileiro, a primeira fase tem dois meses. Você contrata um jogador por três meses [ mínimo exigido pela lei ]. Neste mês extra os atletas querem receber, mas o clube está inativo .”

Para ele, compensaria aumentar o número de times na série D ou criar uma série E do Campeonato Brasileiro se a CBF colaborasse. “Nós temos equipes com condições de ingressar em competição nacional, desde que a CBF se comprometesse a cobrir as despesas da competição – transporte, alimentação e hospedagem. Sem isso não há grande vantagem”, diz.

Ele também defende os campeonatos estaduais e regionais e elogia a Copa do Nordeste, bancada pela CBF, em que os 16 clubes recebem uma cota fixa em torno de 345 mil pela participação, mais a renda das partidas: “Um clube de Sergipe não ganha menos do que 500 mil reais em uma competição como essa. Ela serve para engrandecer os times da região”, diz, lembrando ainda que o campeão da Copa do Nordeste tem vaga garantida na Copa Sul-Americana. “É um caminho curto para uma equipe de menor porte chegar a uma competição internacional”, diz.

De acordo com o site Esporte Nordeste, o campeão receberá cerca de R$ 1,5 milhões, incluindo a cota de participação, a classificação até a final e a premiação.Em 28 de novembro, a CBF divulgou a tabela da Copa Verde, que será disputada por 6 clubes das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste. O vencedor da competição, que acontece entre fevereiro e abril de 2014, também ganhará vaga na Copa Sul-Americana.

A CBF foi procurada pela reportagem da Pública, mas disse que não iria se manifestar.

PAULO ANDRÉ SABE O QUE É SOFRER NO FUTEBOL

Casos como esses mostram a necessidade de mudanças urgentes no futebol brasileiro, defendidas pelo Bom Senso FC, entre elas duas de interesse direto dos personagens desta reportagem: o aumento de jogos para os clubes pequenos (estendendo o calendário de atividade desses jogadores) e a instituição de um fair play financeiro, com a inclusão de leis mais severas para clubes que descumprirem suas obrigações contratuais. Só assim, seria possível mudar a história da grande maioria dos jogadores brasileiros, que alguns líderes do Bom Senso, como o jogador Paulo André, zagueiro do Corinthians, não esquecem.

“Eu morava num sítio que ficava quatro quilômetros da cidade, dormia num galpão com mais 30 outros sonhadores, aspirantes a jogadores de futebol. A nossa alimentação era precária: arroz, feijão e salsicha todo dia. A estrutura de treino era qualquer pedaço de grama que tinha na cidade. Nas viagens longas que se faziam pelo interior do estado, o ônibus quebrava e a gente chegava em cima da hora, atrasado pra jogar. Eu ganhava um salário mínimo, que era de 180 reais, e atrasava”.

A realidade vivida pelo craque 11 anos atrás, quando defendia as cores do Águas de Lindoia Esporte Clube, não mudou para os clubes menores, que ainda sofrem com esse vácuo de atuação de quem organiza o futebol brasileiro, como ele diz. “Isso não é fomentar futebol e sua prática, isso é expor trabalhadores a condições de risco. Isso é vender uma ilusão de ser jogador de futebol a milhares de pessoas, milhares de atletas, que vivem como verdadeiros bóias-frias do futebol. Vivendo do futebol três, quatro vezes no ano e depois tendo que encontrar outra divisão”, reflete.

“Queremos a redução de jogos dos times da Série A e aumento do número de jogos de todos os outros times brasileiros”, explica Paulo André, que vê os jogadores dos grandes times sobrecarregados de jogos e os dos pequenos sem-calendário. “A gente acredita que os clubes têm que jogar no mínimo 36 partidas e no máximo 72 partidas no ano. Qualquer modelo que consiga inserir essas duas premissas já é muito melhor do que o que está aí”, diz. “O que tem feito a CBF e as Federações sim, é um assassinato contra os clubes do interior.”

“Não há necessidade de que para que o pequeno exista, ele deva jogar contra o grande”, destaca. “Essa é uma grande mentira que tem emperrado o desenvolvimento dos pequenos. Hoje, no estado de São Paulo, que é o estado mais importante do país no futebol, a gente conta com 105 clubes. Desses 105, 85 não jogam contra os grandes porque fazem parte da Série A2, da Série A3 e da Série B do Paulista. E eles continuam sobrevivendo. Assim como os 7 clubes que jogam a Série A1 e não disputam competições nacionais. O que a gente pergunta para essas pessoas que defendem esse modelo é: qual é a diferença estrutural e financeira dos sete clubes que jogam a A1 para os 85 clubes que não jogam a A1? Não existe diferença. Todos eles estão se matando para tentar sobreviver”, conclui.

Por meio do Bom Senso FC, Paulo André e outros jogadores da “elite” também aproveitam sua visibilidade para denunciar os baixos salários e o atraso nos pagamentos que atingem a maior parte dos atletas. De acordo com dados da CBF, em 2010, 60% dos atletas profissionais registrados ganhavam até um salário mínimo, na época, R$ 510. Apenas 4,3% ganhava acima de 20 salários mínimos. Na lista dos 20 jogadores mais bem pagos no Brasil, feita pela Pluri Consultoria a pedido da revista Época Negócios, pelo menos oito fazem parte do Bom Senso FC. Enquanto D’Alessandro (Internacional), recebe o melhor salário entre eles, cerca de R$ 7,5 milhões por ano, os jogadores do Mauaense ganham o correspondente a 0,1% desse valor – R$ 8.136 por ano, um salário mínimo por mês.

O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.

Por Ciro Barros e Giulia Afiune, com foto de Renato Leite Ribeiro

Fonte: Pública - Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

REDE GLOBO , O OVO DA SERPENTE.

Comunicação

Rede Globo: como se manipula a informação

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Sexta, 29 Novembro 2013
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"Assim caminha o jornalismo da TV Globo. Quando questionado,  a resposta dos editores é acusar os críticos de defenderem a censura. Um argumento que não se sustenta". Por Mário Augusto Jakobskind

Não é de hoje que vários pensadores sérios estudam o mecanismo da manipulação da informação na mídia de mercado. Um deles, o linguista Noam Chomsky, relacionou dez estratégias sobre o tema.

Na verdade, Chomsky elaborou um verdadeiro tratado que deve ser analisado por todos (jornalistas ou não) os interessados no tema tão em voga nos dias de hoje em função da importância adquirida pelos meios de comunicação na batalha diária de “fazer cabeças”.

Vale a pena transcrever o quinto tópico elaborado e que remete tranquilamente a um telejornal brasileiro de grande audiência e em especial ao apresentador.

O tópico assinala que o apresentador deve “dirigir-se ao público como criaturas de pouca idade ou deficientes mentais. A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonação particularmente infantil, muitas vezes próxima da debilidade, como se o espectador fosse uma pessoa de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto mais se tenta enganar o espectador, mais se tende a adotar um tom infantil”.

E prossegue Chomsky indagando o motivo da estratégia. Ele mesmo responde: “se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, então, por razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos”.

Alguém pode estar imaginando que Chomsky se inspirou em William Bonner, o apresentador do Jornal Nacional que utiliza exatamente a mesma estratégia assinalada pelo linguista.

Mas não necessariamente, até porque em outros países existem figuras como Bonner, que são colocados na função para fazerem exatamente o que fazem, ajudando a aprofundar o esquema do pensamento único e da infantilização do telespectador.
De qualquer forma, o que diz Chomsky remete a artigo escrito há tempos pelo professor Laurindo Leal Filho depois de ter participado de uma visita, juntamente com outros professores universitários, a uma reunião de pauta do Jornal Nacional comandada por Bonner.
Laurindo informava então que na ocasião Bonner dissera que em pesquisa realizada pela TV Globo foi identificado o perfil do telespectador médio do Jornal Nacional. Constatou-se, segundo Bonner, que “ele tem muita dificuldade para entender notícias complexas e pouca familiaridade com siglas como o BNDES, por exemplo. Na redação o personagem foi apelidado de Homer Simpson, um simpático mas obtuso personagem dos Simpsons, uma das séries estadunidenses de maior sucesso na televisão do mundo”

E prossegue o artigo observando que Homer Simpson “é pai de família, adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja, é preguiçoso e tem o raciocínio lento”

Para perplexidade dos professores que visitavam a redação de jornalismo da TV Globo, Bonner passou então a se referir da seguinte forma ao vetar esta ou aquela reportagem: “essa o Hommer não vai entender” e assim sucessivamente.

A tal reunião de pauta do Jornal Nacional aconteceu no final do ano de 2005. O comentário de Noam Chomsky é talvez mais recente. É possível que o linguista estadunidense não conheça o informe elaborado por Laurindo Leal Filho, até porque depois de sete anos caiu no esquecimento. Mas como se trata de um artigo histórico, que marcou época, é pertinente relembrá-lo.

De lá para cá o Jornal Nacional praticamente não mudou de estratégia e nem de editor-chefe. Continua manipulando a informação, como aconteceu recentemente em matéria sobre o desmatamento na Amazônia, elaborada exatamente para indispor a opinião pública contra os assentados.

Dizia a matéria que os assentamentos são responsáveis pelo desmatamento na região Amazônica, mas simplesmente omitiu o fato segundo o qual o desmatamento não é produzido pelos assentados e sim por grupos de madeireiros com atuação ilegal.

Bonner certamente orientou a matéria com o visível objetivo de levar o telespectador a se colocar contra a reforma agrária, já que, na concepção manipulada da TV Globo, os assentados violentam o meio ambiente.

Em suma: assim caminha o jornalismo da TV Globo. Quando questionado,  a resposta dos editores é acusar os críticos de defenderem a censura. Um argumento que não se sustenta. Por Mário Augusto Jakobskind

A propósito, o jornal O Globo está de marcação cerrada contra o governo de Rafael Correa, do Equador, acusando-o de restringir a liberdade de imprensa. A matéria mais recente, em tom crítico, citava como exemplo a não renovação da concessão de algumas emissoras de rádio que não teriam cumprido determinações do contrato.

As Organizações Globo e demais mídias filiadas à Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) raciocinam como se os canais de rádio e de televisão fossem propriedade particular e não concessões públicas com normas e procedimentos a serem respeitados.

Em outros termos: para o patronato associado à SIP quem manda são os proprietários, que podem fazer o que quiserem e bem entenderem sem obrigações contratuais.

No momento em que o Estado fiscaliza e cobra procedimentos, os proprietários de veículos eletrônicos de comunicação saem em campo para denunciar o que consideram restrição à liberdade de imprensa.

Os governos do Equador, Venezuela, Bolívia e Argentina estão no índex do baronato midiático exatamente porque cobram obrigações contratuais. Quando emissoras irregulares não têm as concessões renovadas, a chiadeira do patronato é ampla, geral e irrestrita.

Da mesma forma que O Globo no Rio de Janeiro, Clarin na Argentina, El Mercurio no Chile e outros editam matérias com o mesmo teor, como se fossem extraídas de uma mesma matriz midiática.

Mário Augusto Jakobskind é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes.