sexta-feira, 27 de julho de 2012

DENÚNCIA. URGENTE.

Maricáos: Vergonha e banditismo...


Todos nós sabemos que a entrega da correspondência pelos correios se faz através da localização exata dos endereços de entrega; ou seja é necessário que as ruas estejam nominadas, e que as casas também possuam numeraçâo. Dentro de Maricáos isso sempre foi um sonho,visto que nenhum prefeito se preocupou com tal necessidade,e os cidadãos ,em sua maioria não recebiam,e recebem as suas correspondência em seu lar. Alguns bairros, que possuem associações de moradores passaram a receber a tal correspondência nas sedes destas associaçôes, e além de receber as cartas, sedex e telegramas passaram a distribui-las aos seus associados, e em muitos casos até mesmo aos que nunca contribuiram nesta empreitada comunitária. Outros buscaram alugar caixas postais;em um município onde nada, absolutamente nada funciona, esses heróis acabaram se tornando "concessionários' obrigatórios dos serviços monopolizados pela ECT. Mesmo ao arrepio da lei a gerência dos correios de Maricáos acabou tornando seus representantes obrigatórios, e sem opção as tais associações comunitárias; que mesmo denunciando essa farsa promovida pela ECT em nosso município, foram submetidos a imposição de receberem obrigatoriamente toda a correspondência sob a ameaça ilegal de não mais receberem as de seus associados,uma vergonha!!!! Se tudo isso já não fosse um esquema vergonhoso, vem acontecendo muito pior; é o caso do CONDADO DE MARICÁ" onde existe uma portaria, faz mais de vinte anos,e que serve para aumentar a segurança e buscar junto aos orgãos públicos os tais serviços que deveriam ser obrigação do alcáide de plantão; mesmo sendo residência de diversos ex-prefeitos nada foi feito para essa comunidade durante todo seu tempo de existência, abandonado a sua própria sorte sempre teve como único apóio um grupo aguerrido de moradores que lutou e luta para garantir e melhorar as condições de vida de seus moradores, mesmo que a maioria dos moradores ignorem e boicotem essa importante ferramenta comunitária, o que não é diferente de outros bairros onde poucos fazem o possível para o pleno das comunidades .Como já não bastassem todas essa adversidades estamos em ano eleitoral,ai a coisa pode piorar,a intervenção das "autoridades' que nunca aparecem para cumprir seu deveres acontecem nesse período para o pior.Aproveitando-se da indignação geral da parte dos moradores com os serviços públicos,ai incluído os dos correios ,o Prefeito quis pegar carona para tentar fazer a sua rasteira política de cooptação e troca de favores através de seus aspones locais,paus mandados da desprefeitura já em total descrédito com o povo,mas que insistem em enganar o povo local. Assim sendo o "verme" que ocupa tal posto,que nunca tinha aparecido lá, apareceu no local e foi solenemente ignorado pelos moradores, e na saída prometeu vingança contra a associação de moradores; dito e feito,na segunda feira última passada causou grande tumulto com seus aspones amestrados,ameaçando físico e moralmente o empregado da portaria,resgando informes do quadro de avisos, xingando e ofendendo moralmente um diretor presente; a polícia foi chamada para garantir a integridade física do diretor e do empregado da portaria,além dos equipamentos e bens da associação; toda essa vergonha foi gravada pelo sistema de segurança da portaria,até as ameaças. Mas o pior de tudo foi constatado com a chegada da viatura policial chamada pela diretoria da associação,o cidadão que mais ameaçou, o mais descontrolado e agressivo,que queria inclusive quebrar o portão de acesso da portaria era um membro da "segurança' do Prefeito, que insistia em repetir que -"ia quebrar tudo, que tinha as costas quentes ,e que o prefeito ia mandar destruir a portaria...". tal elemento foi identificado como policial militar, integrante do Batalhão de polícia rodoviária,morador recente do Condado, um tal Maicon Castro. O povo precisa saber dos métodos utilizados pelo nosso alcáide para aqueles que não lambem as suas botas, que não comungam com os descaminhos da sua inominável administração; fica aqui um brado de alerta ao povo de Maricáos; e que nesse casos aqueles que se sentirem ameaçados por essa Máfia devem tomar o mesmo caminho desta associação de moradores e denunciar essas ilegalidades a polícia e a justiça; e fica aqui o meu apoio a esses moradores ameaçados. - SOMOS TODOS APAC - (Associação de Moradores do Condado de Maricá).

terça-feira, 24 de julho de 2012

COMPERJ - Uma tragédia anunciada

Como nasce uma região: a construção do Leste Fluminense a partir da implantação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – COMPERJ
por: Natália M. Gaspar – Ibase/RJ
Resumo:
O objetivo deste trabalho é discutir a reconfiguração do território a partir da implantação de grandes empreendimentos e os seus desdobramentos em relação ao tecido organizativo local. Para tanto, a proposta é analisar o "surgimento" de uma "região" denominada de Leste Fluminense, a partir da instalação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), pela Petrobras, e da criação de um consórcio intermunicipal (Conleste) que reúne prefeituras de 14 municípios, com expressivo apoio do governo estadual, configurando um novo arranjo das forças políticas em torno da transformação do território. O Comperj teve sua instalação anunciada pela Petrobras em 2006 e constitui um dos maiores investimentos em andamento no país, de cerca de 8,4 bilhões de reais. Trata-se de uma refinaria de padrão internacional, capaz de refinar o petróleo pesado proveniente da Bacia de Campos e de gerar subprodutos de alto valor agregado, condizente, portanto, com o modelo de desenvolvimento que vem sendo implantando pelo governo federal. A intenção deste papel é abordar as relações entre a empresa, os governos e as organizações e associações locais diante do direcionamento de uma série de iniciativas para este conjunto de municípios, que implicam disputas por recursos e diferentes estratégias para lidar com os inúmeros impactos resultantes da instalação de um empreendimento desta magnitude.
Na última década, o Brasil tem atravessado um período de intenso crescimento econômico, alicerçado em investimentos de grande porte direcionados a grandes empreendimentos nos setores de infraestrutura, nas cadeias produtivas do petróleo e da mineração e no agronegócio, boa parte deles com financiamento público, através principalmente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e reunidos pelo governo federal sob o nome de “Programa de Aceleração do Crescimento” (PAC). Como salienta Grzybowski, a diferença em relação a períodos de crescimento anteriores (anos 50 e anos 70, por exemplo) é que agora “a justificativa é crescer para ter justiça social”. De fato, a redução do percentual de pessoas vivendo na miséria (independente do critério adotado para estabelecê-la), a ampliação do percentual da população considerada, grosso modo, como “classe média” e o salto dos empregos com “carteira assinada” e do valor real do salário mínimo são ganhos inquestionáveis e representam significativa diferença em relação a períodos anteriores de crescimento econômico.
No entanto, é cada vez mais patente a necessidade de incluir no debate as mazelas associadas ao “modelo de desenvolvimento” que está sendo implantado – em linhas gerais, industrialização ligada à intensa exploração de recursos naturais não renováveis e privatização de bens comuns, urbanização e exclusão. De acordo com o GT Combate ao Racismo Ambiental - que reúne organizações ambientalistas, trabalhistas, comunitárias, acadêmicas e movimentos sociais - “as injustiças ambientais recaem de forma implacável sobre grupos étnicos vulnerabilizados e sobre outras comunidades, discriminadas por sua origem ou cor.”.
De que maneira a antropologia pode contribuir para este debate?
A emergência de uma nova questão pública - a preservação do meio ambiente - parece constituir ao mesmo tempo o pano de fundo para pensar a emergência e a reformulação de conflitos sociais e o elo entre as diversas formas de exclusão inerentes ao modo capitalista de organização do trabalho humano e da natureza. Ao analisar a “ambientalização dos conflitos sociais”, Leite Lopes chama a atenção, entre outras coisas, para a necessidade de especificar a diferença dos usos e contextos de novas palavras de aparência unânime como “meio ambiente” e “participação”. E destaca a importância de analisar de forma etnográfica as manifestações singulares e a diversidade de práticas dentro da macro-instituição que chamamos de estado (2004:35).
A eclosão de conflitos ambientais em decorrência da implantação de grandes empreendimentos, de acordo com Acselrad, deve ser analisada enquanto dinâmica conflitiva própria do modelo de desenvolvimento em curso e constitui uma das formas encontradas por organizações e grupos para contestar a distribuição de poder sobre o território e seus recursos. A denúncia da prevalência da “desigualdade ambiental” traz à tona a maneira pela qual os custos ambientais são transferidos para grupos de menor renda e menos capazes de se fazer ouvir nas esferas de decisão (2004: 21).
O objetivo deste trabalho é discutir, de uma perspectiva antropológica, a reconfiguração do território a partir da implantação de grandes empreendimentos e os seus desdobramentos em relação ao tecido organizativo local. Foi elaborado a partir da minha inserção como pesquisadora da Organização Não Governamental (Ong) Instituto Brasileiro de Análises Econômicas e Sociais (Ibase) em dois diferentes projetos.
Primeiramente, coordenei projeto financiado por organização internacional voltada para a transparência (Revenue Watch Institute), que tem por objetivo o fortalecimento do controle social e a qualificação do debate público nos setores de petróleo e mineração.
No âmbito deste projeto, desenvolvi estudo de caso sobre o controle social no processo de licenciamento ambiental, a partir dos casos do Comperj e da TK-Csa (siderúrgica implantada pela joint venture Thyssenkrupp/Vale no município do Rio de Janeiro). Em seguida, passei a atuar como pesquisadora no projeto Indicadores da Cidadania – Incid, financiado pela Petrobras e destinado a 14 municípios que integram o consórcio intermunicipal do Leste Fluminense (Conleste – hoje constituído por 15 municípios). Minhas atividades neste projeto, até agora, consistiram principalmente na formulação de indicadores a partir de dados secundários e na realização de uma pesquisa amostral de fluxo com questionário fechado a respeito da percepção da população sobre questões relacionadas à cidadania.
A proposta deste trabalho é analisar o "surgimento" de uma "região" denominada de Leste Fluminense. A partir da instalação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), pela Petrobras, e da criação de um consórcio intermunicipal (Conleste) que reúne prefeituras de 15 municípios, com expressivo apoio do governo estadual, o Leste Fluminense expressa um novo arranjo das forças políticas em torno da transformação do território. Este rearranjo se insere na convergência de diferentes interesses para a consolidação do estado do Rio de Janeiro como uma unidade federativa que agrega as diferentes fases da cadeia produtiva do petróleo – extração, refino e produção de bens de consumo.
O Comperj teve sua instalação anunciada pela Petrobras em 2006 e constitui um dos maiores investimentos em andamento no país, de cerca de 8,4 bilhões de reais.
Trata-se de uma refinaria de padrão internacional, capaz de refinar o petróleo pesado proveniente da Bacia de Campos e de gerar subprodutos de alto valor agregado, condizente, portanto, com o modelo de desenvolvimento que vem sendo implantando pelo governo federal. Ademais, é a principal obra do PAC no estado do Rio de Janeiro e conta com robusto financiamento do BNDES.
A partir de 2006, ano do anúncio pela Petrobras da instalação do Comperj no município de Itaboraí (RJ), uma nova configuração regional começa a se delinear. Ao final daquele ano, a constituição do Consórcio Intermunicipal pelo Desenvolvimento do Leste Fluminense – o Conleste -, amplamente apoiada ou mesmo estimulada pelo governo do estado, veio a evidenciar um esforço no sentido da instituição deste novo recorte regional.
Até então, os 15 municípios que hoje integram o Conleste ainda não haviam sido agrupados por nenhum recorte regional oficial, enquadrando-se em diferentes regiões.
Por exemplo, segundo do IBGE, distribuem-se por 3 mesorregiões geográficas do estado do Rio de Janeiro – Baixadas, Centro Fluminense e Metropolitana do Rio de Janeiro (que, por sua vez, subdividem-se em microrregiões). Segundo classificação do governo do estado, o atual Conleste se distribui pelas regiões Serrana, das Baixadas Litorâneas e Metropolitana. O governo do estado também divide o território estadual
De acordo com Adhemar Mineiro, a visão que prevalece no BNDES, o principal financiador da economia brasileira, é bastante otimista a respeito dos impactos positivos das grandes empresas, por seu potencial financeiro, tecnológico, gerencial e de mercado, entre outros, e suas sinergias, não apenas internas, mas também na articulação com uma cadeia de fornecedores, distribuidores e prestadores de serviços variados.
O Conleste é um consórcio intermunicipal, criado em outubro de 2006, reunindo à época as prefeituras de 11 municípios fluminenses: Itaboraí, São Gonçalo, Niterói, Maricá, Tanguá, Magé, Guapimirim, Rio Bonito, Silva Jardim, Casimiro de Abreu e Cachoeiras de Macacu. Em 2009, o município de Saquarema passou a integrar o consórcio, seguido, em 2010, por Teresópolis, em 2011, por Araruama e em 2012, por Nova Friburgo. Diferentemente dos convênios, os consórcios são acordos celebrados entre pessoas públicas do mesmo nível de governo. Dos consórcios celebrados entre pessoas públicas, os mais comuns são aqueles pactuados entre municípios. O Conleste é um consórcio intermunicipal, dotado de personalidade jurídica de direito privado, cujos lucros eventuais não são repartidos entre os associados, mas reaplicados integralmente nas atividades-fim, e sujeita-se às normas civis aplicáveis a toda e qualquer associação civil, mas a peculiaridade de ser constituído por pessoas públicas, faz com que as normas de direito público aplicáveis aos municípios consorciados (como realização de concurso público e licitação) sejam igualmente exigidas do consórcio, entidade civil (Fundação Prefeito Faria Lima – Cepam. Unidade de Políticas Públicas – UPP, 2001), por regiões hidrográficas, que não necessariamente coincidem com os limites municipais, e que são associadas à criação de comitês de bacia, aos quais é atribuído o gerenciamento dos recursos hídricos. Por este critério, os 15 municípios do consórcio estão inseridos em 4 regiões hidrográficas – Piabanha, Baía de Guanabara, Rio Dois Rios e Lagos São João. De acordo com Pierre Boudieu, “o discurso regionalista é um discurso performativo, que tem em vista impor como legítima uma nova definição das fronteiras e dar a conhecer e fazer reconhecer a nova região assim delimitada – e, como tal, desconhecida – contra a definição dominante, portanto, reconhecida e legítima, que a ignora. O ato de categorização, quando consegue fazer-se reconhecer ou quando é exercido por uma autoridade reconhecida, exerce poder por si...” (1989: 116, grifo da autora).
Para o geógrafo Haesbaert, a importância da categoria região para a análise do mundo contemporâneo se dá diante do entendimento de que há na atualidade uma contínua redefinição de papéis, funções, conflitos e regionalismos, como consequência da globalização e de sua inserção/influência desigual em termos espaciais (2010). A iniciativa das administrações públicas daqueles 11 municípios (inicialmente) no sentido de estabelecer e fazer reconhecer a região do Leste Fluminense veio a encontrar reconhecimento, primeiramente, no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) referente ao licenciamento das instalações do Comperj no sítio principal em Itaboraí.
Estes estudos devem estabelecer as “áreas de influência” dos empreendimentos, definindo municípios que serão alvo de ações específicas para “mitigação” de impactos, e geralmente de uma série de ações que podem grosso modo ser denominadas de “compensações sociais e ambientais”. Minimamente, devem ser definidas áreas de 7. A divisão do estado em regiões hidrográficas está associada à criação dos comitês de bacia hidrográfica
“para gerenciar o uso dos recursos hídricos de forma integrada e descentralizada, com a participação da sociedade”, de acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (INEA - http://www.inea.rj.gov.br/recursos/comite.asp). Ainda de acordo com o órgão ambiental estadual, esses colegiados, instituídos pela lei que estabeleceu a Política Estadual de Recursos Hídricos (3.239/98), são compostos por representantes do Poder Público, da sociedade civil e de “usuários de água” e têm poder consultivo, normativo e deliberativo. A partir dos comitês, o estado do Rio de Janeiro foi dividido em 10 Regiões Hidrográficas, “de acordo com afinidades geopolíticas e as bacias que abrangem”. É função dos comitês de bacias articular a atuação de entidades intervenientes, aprovar critérios de cobrança e o plano de bacia, inclusive acompanhando sua execução.
Minhas primeiras reflexões neste sentido e o levantamento das informações ocorreram no âmbito da elaboração de parte do relatório Introdução ao Incid – Indicadores da Cidadania, do Ibase, influência “direta” e “indireta”

Mapa 1 – Área de Abrangência Regional do Comperj (primeiros municípios a integrar o Conleste) – 2007 Fonte: EIA 2007. Petrobras/Concremat Engenharia O respaldo do governo estadual veio a ser consolidado através da criação pelo governador do “Fórum Comperj” – Fórum para o Desenvolvimento da Área de Influência do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, em 2007, com vistas a criar ferramentas de gestão e planejamento de políticas regionais. O Fórum Comperj é presidido pelo governador e dele participam, como parceiros institucionais, todas as secretarias do Estado, todas as prefeituras dos municípios integrantes do Conleste, a Assembleia Legislativa, o Ministério das Cidades, o BNDES, a Caixa Econômica Para compreender melhor o processo de licenciamento ambiental no Brasil.
Federal e a Petrobras S.A..
Sob a perspectiva de inserção em uma nova lógica de recorte territorial, impulsionada pela instalação do Comperj e pela disputa pelos recursos a ela associada, outras administrações municipais passaram a ambicionar a sua inclusão na região do Leste Fluminense e, portanto, no consórcio intermunicipal que a representa. Em 2009, o município de Saquarema passou a integrar o Conleste, seguido, em 2010, por Teresópolis, em 2011, por Araruama e, em 2012, por Nova Friburgo. Hoje o Conleste é composto por 15 municípios. O poder legislativo, além de integrar o Fórum Comperj, também busca acompanhar e construir um posicionamento diante das transformações do Leste Fluminense. A Comissão Especial para Discutir e Construir a Interlocução com os Municípios que Sofrem a Influência do Comperj junto à Petrobras realiza Audiências Públicas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) durante as quais têm voz organizações da sociedade civil destes municípios, diante de uma mesa composta por representantes do órgão ambiental estadual responsável pelo licenciamento e das empresas responsáveis pelas diferentes partes do empreendimento (Petrobras, Comperj S.A., Transpetro). Alguns legislativos municipais também procuram um posicionamento, através da realização de audiências públicas sobre impactos mais específicos de seus municípios, como, por exemplo, a audiência “Impactos do Comperj sobre a Mobilidade Urbana no Município de São Gonçalo”, promovida pela Câmara de Vereadores. Para além das iniciativas claramente impulsionadas pela Petrobras e pelos governos, o setor industrial também expressa a consideração do Leste Fluminense em seus planos. Anualmente, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) elabora uma pesquisa junto aos investidores públicos e privados sobre as intenções de investimentos no estado. A última edição da pesquisa, publicada em 2010 e referente aos projetos anunciados até o mês de julho de 2009, compila valor de investimentos da ordem de R$ 126 bilhões em mais de 100 projetos. O estudo da Firjan identifica 4 “eixos de desenvolvimento” no estado: eixo Sepetiba (portos, rodovias e indústrias), eixo Norte (Bacia de Campos e Complexo Logístico do Açu), eixo Sul (Usina Nuclear Angra 3). O eixo leste está apoiado na construção do Comperj.
O desenvolvimento que pode ser induzido na região, de  acordo com esta pesquisa, “não se limita a indústria de fabricação de materiais de plástico. Há perspectiva de um amplo espectro de investimentos no setor de serviços de apoio, além de oportunidades no setor terciário e na construção civil. Cabe destacar, também, a construção do Arco Metropolitano, rodovia que ligará o Comperj ao Porto de Itaguaí”.
Conhecida e reconhecida, portanto, por todas as esferas de governo e pelo principal agente econômico das transformações vindouras – a Petrobras, além do setor industrial fluminense como um todo, a região do Leste Fluminense surge intimamente associada à criação da Comperj e ao seu papel na consolidação da cadeia produtiva do petróleo no estado do Rio. A partir de então, genericamente tratado como “área de influência” do Comperj, o Leste Fluminense passou a ser beneficiado por uma série de iniciativas e “projetos” impulsionados pela presença da Petrobras na região. Entre eles, por exemplo, figura o projeto “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – Municípios do Conleste”. Segundo Caetano, este é parte de um projeto maior que a Petrobras S/A vem empreendendo em diversos lugares do mundo com o objetivo de monitorar os impactos de sua atividade industrial, segundo objetivos estabelecidos pela ONU através do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-HABITAT) (2010: 11). O projeto visa alcançar estes objetivos nos 11 municípios que originalmente compunham o Conleste. Para tanto, foi constituído um banco de dados georreferenciado com informações socioeconômicas e ambientais sobre a região.
O trabalho culminou com o estabelecimento de 9 Objetivos e, para cada um deles, foram acrescidas metas e indicadores específicos, somando-se 23 metas e 58 indicadores. Além disso, de acordo com Caetano, desde 2007, são realizados anualmente seminários para divulgação dos dados.
Outra iniciativa da Petrobras no sentido de tratar como um conjunto os municípios do Leste Fluminense foi a inclusão de 14 deles (os 11 primeiros, mais Saquarema, Nova Friburgo e Teresópolis) no projeto Agenda 21 Comperj. O projeto resultou em uma publicação que consolida o resultado de atividades que envolveram representantes dos governos, do empresariado e de organizações da sociedade civil, e na formação, em cada um dos municípios, de Fóruns de Agenda 21, que hoje constituem instâncias de interlocução para tratar de assuntos referentes aos municípios. Falaremos mais adiante sobre esta instância de “participação”. Além disso, a constituição e o funcionamento dos Fóruns locais também contribui para a constituição de uma rede de pessoas nos 14 municípios envolvidos, propiciando o fortalecimento de uma comunicação intrarregional.
Nesta direção, o projeto Indicadores da Cidadania (Incid), do Ibase, financiado pelo setor de Comunicação Institucional da Petrobras, vem se somar a um conjunto de iniciativas destinadas ao Leste Fluminense, abrangendo o mesmo conjunto de 14 municípios beneficiados pela Agenda 21 Comperj.
A produção de dados a respeito dos diferentes territórios que compõem a região do Leste Fluminense, tratada como tal, corrobora e alimenta a necessidade de construção de um discurso no sentido de reafirmar o estabelecimento desta divisão regional, divisão esta impulsionada e sustentada pela instalação de um empreendimento da magnitude do Comperj e fruto de negociações com autoridades governamentais de diferentes níveis.
Analisando historicamente as instituições políticas ocidentais, Foucault chama a atenção para o surgimento da estatística, no século XVII e, no século XVIII, da economia como um nível de realidade, um campo de intervenção específico do governo, e da “população”, como alvo das ações do governo. Embora a arte de governar estivesse ligada aos aparelhos de governo e ao conhecimento do Estado, desde que um conjunto de saberes e análises – a estatística – adquiriu toda importância no século XVII, Foucault afirma que a arte de governar (em oposição à soberania, que tem um fim em si mesma) foi “desbloqueada” em conexão com a emergência do problema da população.
Dali em diante, “as técnicas de governo se tornaram a questão política fundamental e o espaço real da luta política” (1996: 288).
Na reedição do livro Comunidades Imaginadas, Benedict Anderson analisa a formação de nações a partir das regiões coloniais do Sudeste Asiático e identifica três instituições de poder que, juntas, moldaram a maneira pela qual o Estado imaginava o seu domínio – “a natureza dos seres humanos por ele governados, a geografia do seu território e a legitimidade do seu passado”: o censo, o mapa e o museu (2009: 227). Até agora, foi possível observar que as informações produzidas a respeito do Leste Fluminense não partiram do governo, mas foram fruto de iniciativas empresariais (Petrobras, Firjan), que foram executadas em parceria com instituições de conhecimento (universidades públicas) e da sociedade civil (Ibase, organizações que integram a Agenda 21, etc.). Em todos estes conjuntos de informações, e também nos bancos de dados oficiais (que não apresentam o recorte regional do Leste Fluminense), a divisão por município é de importância cardinal.
O município como instância territorial é a menor unidade de poder no âmbito da administração pública. Com a Constituição de 1988, o município passou a responder pela gestão de uma quantidade de recursos jamais antes vista. Modesto, em tese na qual analisa a implantação de vários “projetos de desenvolvimento”, que envolvem agentes públicos e privados de diferentes escalas, no município de São Gonçalo, identifica que passam a vigorar “novas formas de fazer política que passam pelos incentivos fiscais, pela qualificação profissional e pelo estímulo ao empreendedorismo”, e que as prefeituras sofrem pressões destas instituições e passam a ter de se adequar a esse movimento (2008: 197).
Ao mesmo tempo, como unidade mínima de apresentação das informações pela maior parte dos bancos de dados oficiais, a partir dos quais são elaborados os conjuntos de dados especificamente dirigidos ao Leste Fluminense, são praticamente inevitáveis as comparações entre os municípios que compõem esta nova região, que passa a ser tomada como média para a avaliação de suas partes.
Estes elementos, tanto da esfera administrativa – no sentido de decisões e planejamentos de âmbito regional aos quais devem se adequar os agentes da escala municipal; e no sentido da escala municipal como unidade dentro da qual devem se classificar as organizações que queiram tomar parte na disputa por recursos e benefícios dos “projetos” – quanto da esfera da produção de representações sobre o Leste Fluminense e sobre as unidades mínimas que o compõem – os municípios – convergem no sentido de adequar a ação de diferentes agentes, vinculados em diferentes escalas, ao projeto hegemônico em processo de implantação na região.
Por outro lado, a percepção dos grupos populacionais destes municípios a respeito desta nova divisão regional parece ser, de uma maneira geral, de estranhamento, e varia segundo a posição social e a localização destes grupos no território. Em “visitas municipais” realizadas pela equipe do projeto Indicadores da Cidadania, do Ibase, lideranças reunidas pelos Fóruns das Agendas 21 Comperj questionaram a apresentação dos indicadores por município, desconsiderando as especificidades de bairros, distritos ou localidades. Foi questionada, inclusive, a denominação da região como Leste Fluminense. Em outra fase do projeto, por ocasião do trabalho de campo para aplicação de questionários, foi possível perceber que, para muitos dos moradores de bairros ou distritos afastados do centro urbano (afastados pela distância física ou pelas más condições de transporte, ou ambas) o nome do município é associado ao centro. Nestes casos, as pessoas se identificam como moradores das localidades. Isto acontece, por exemplo, no distrito de Duques, onde as pessoas se referem ao centro como “Tanguá”; o mesmo acontece em Guapiaçu (localidade do distrito de Subaio), para cujos moradores “Cachoeiras de Macacu” é o centro da cidade.
Esta tendência se revelou ainda mais forte em Guia do Pacobaíba, que os moradores identificam como uma localidade dentro de Mauá, ou Praia de Mauá. A referência a Magé como município de residência requer de muitos entrevistados alguns segundos de reflexão.
Os resultados da referida pesquisa quantitativa ainda estão sendo analisados, mas é possível antecipar que, de uma maneira geral, os moradores percebem desigualdades entre diferentes localidades dentro dos municípios no acesso a serviços como saúde, educação e em relação às condições do meio ambiente – como a qualidade da água, do ar, e a limpeza das ruas e praças. Ou seja, há uma percepção difusa sobre a desigualdade no interior dos municípios.
De uma maneira geral, no âmbito de uma pesquisa quantitativa que procurou captar a percepção difusa da população de 14 municípios, através de amostragem, é preciso notar que há uma percepção bastante otimista quanto à perspectiva de que haja mudanças para melhor nos territórios pesquisados. Em localidades de municípios como Itaboraí e Tanguá, essas mudanças foram diretamente atribuídas à implantação do Comperj, segundo relato dos entrevistadores.
No entanto, ao contrário das expectativas geradas na população, as transformações pelas quais a região do Leste Fluminense tende a passar nos próximos anos podem ser semelhantes àquelas enfrentadas por outras regiões onde se instalaram grandes empreendimentos. Algumas destas transformações são consideradas típicas: “migrações, com consequente estrutura demográfica atípica, composta por elevado coeficiente de homens jovens; favelização, prostituição e criminalidade; espaços urbanos não equipados; despreparo do poder público local, que faz concessões que enfraquecem os cofres municipais e que assiste à ocupação não planejada das beiras de estradas, rios, canais e encostas de morros e à consequente sobrecarga no uso dos equipamentos coletivos, sem cuidar de sua ampliação e modernização” (Piquet 2007 apud Herculano 2010).
Sobre a região impactada pela exploração de petróleo offshore na Bacia de Campos, que inclui municípios do Norte Fluminense e das Baixadas Litorâneas (Região dos Lagos), Serra constata os seguintes aspectos: “fragilidade da norma de distribuição dos royalties e participações especiais; contratação pelas prefeituras de pessoas físicas e jurídicas de forma terceirizada (pela impossibilidade de ampliar o quadro de pessoal com recursos do petróleo); existência de processos de alocação dos recursos para fins distantes da política de promoção da justiça intergeracional [alternativas econômicas para quando o petróleo acabar]; financeirização das rendas petrolíferas (para pagamento de dívidas com a União e capitalização de fundos previdenciários, segundo as Medidas Provisórias 1869/99 e 2103/2001); facilitação para as elites políticas e econômicas do processo de privatização de importantes fundos públicos; falta de controle social destes recursos. (2007: 99)”.
Monié, ao examinar as dinâmicas territoriais e culturais provocadas pelas atividades petrolíferas no norte-fluminense, observou os seguintes aspectos: “o enriquecimento de parte da população e o afluxo de trabalhadores pobres sem qualificação; o surgimento de áreas de residência e de consumo de alto padrão social e a expansão de bolsões de pobreza; o aumento das desigualdades intra-regionais entre Relatório Indicadores da Cidadania – Cidadania Percebida, do Ibase, ainda em versão preliminar e não disponível.  campo e cidade e entre centros urbanos mais ou menos inseridos na nova economia regional; o caráter desigual das dinâmicas em curso; a implantação de uma cultura empresarial moderna, que leva à necessidade da oligarquia tradicional reformular suas estratégias para manter a hegemonia; novas estratégias residenciais e demandas por equipamentos comerciais e culturais modernos.” (2003 apud Herculano 2010).
Análises específicas sobre a cidade de Macaé, a “capital nacional do petróleo”, e frequentemente acionada como exemplo negativo do tipo de “desenvolvimento” que se quer evitar, apontam a seguinte situação: Houve sensível crescimento do emprego formal, crescimento urbano e econômico. Este crescimento foi, entretanto, acompanhado pela favelização, pela violência e tráfico de drogas e pela degradação ambiental (principalmente poluição dos corpos hídricos). Não houve sequer universalização da rede de esgotamento sanitário (Herculano 2010).
O papel de Wilson Madeira Filho trata de elementos relacionados à divisão básica do trabalho na indústria de petróleo e gás de Macaé, caracterizada pela criação de novo contingente de assalariados com remunerações médias acima da média da região, simplificação gerencial, desregulação do trabalho e terceirização. De uma maneira geral, aponta como consequências a fragmentação sindical e o aumento dos acidentes de trabalho. De acordo com este autor, desde meados dos anos 90, a Petrobras tem optado preferencialmente pela não renovação de quadros próprios através de concurso público.
Assim, há 3 categorias de trabalhadores na indústria analisada: funcionários próprios da Petrobras (concursados) – trabalhadores “de elite”; funcionários terceirizados dentro da Petrobras – trabalhadores no final da “cadeia alimentar”; e funcionários de outras empresas do setor privado que prestam serviços à Petrobras – intermediários entre os primeiros e os segundos.
Pode-se supor que a região de implantação do Comperj possa apresentar análoga divisão de categorias de trabalhadores a partir do início da sua operação. A fixação de residência destes trabalhadores de diferentes categorias poderá contribuir para reforçar as desigualdades intrarregionais, entre campo e cidade e entre centros urbanos mais ou menos inseridos na nova economia regional, apontadas acima por Monié.
A comparação com os conflitos em torno da operação da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc) acrescenta elementos para a análise sobre a região do Comperj, visto tratar-se de uma refinaria. Sobre a região onde foi instalada, em 1961, a Reduc, a tese de Sebastião Raulino aponta conflitos em torno de obras pontuais – como obras que causaram enchentes em determinadas ruas; conflitos com moradores em função da precariedade dos bairros do entorno da refinaria; conflitos quanto ao uso da água para fins industriais enquanto a oferta de água tratada para a população é precária. No caso do Comperj, a dimensão do empreendimento é no mínimo três vezes maior do que a Reduc, e os municípios mais próximos apresentam perfil socioeconômico semelhante a Duque de Caxias, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Herculano destaca o conflito em torno da vazamento da Reduc na Baía de Guanabara. Cerca de 20 mil pescadores do entorno da Baía da Guanabara (Niterói, São Gonçalo, Guapimirim, Magé, Itaboraí e, no Rio de Janeiro, as regiões do Caju, Ilha do Governador, Marcílio Dias, Ramos e Paquetá) moveram ação legal no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro - TJ-RJ, pedindo indenização por conta do vazamento de óleo proveniente da Reduc no dia 18 de janeiro de 2000. A Petrobrás foi condenada em primeira instância, mas recursos deram prosseguimento à questão. (Divulgado pela imprensa na época, não haviam sido concluído seus trâmites.). Verbas indenizatórias do derrame de óleo na Baía de Guanabara foram utilizadas na realização de seminário e pesquisa sobre ambiente pela UFRJ.
A percepção de participantes de organizações da sociedade civil e de movimentos sociais a respeito da implantação do Comperj e das transformações a ele associadas é distinta da percepção difusa revelada pela pesquisa quantitativa. Estas lideranças apresentam pontos de vista mais críticos em relação às transformações vindouras e procuram se articular para lidar com estas mudanças.
Os principais conflitos, até agora, referiram-se ao questionamento, por parte de organizações ambientalistas e gestores de unidades de conservação, da localização próxima a áreas protegidas (APA de Guapimirim e Estação Ecológica da Guanabara, principalmente) e da utilização de grande volume de recursos hídricos, em uma região 14 Giuliani chama a atenção para o fato de que, embora, do ponto de vista empresarial, as razões da escolha de Itaboraí sejam as mais "racionais" - a localização naquela área colocará o COMPERJ em posição logística muito favorável: disponibilidade de terrenos baratos, proximidade dos maiores centros urbanos, de terminais portuários, de aeroportos, de refinarias e polos gases-químico, populosa e já caracterizada pela escassez. Foram questionados, também, os impactos sobre os meios de vida dos catadores de caranguejo da comunidade de Itambi, no  município de Itaboraí.
Com o avanço das obras, cresce a articulação em torno do Fórum Popular Comperj, que reúne associações de moradores e pescadores atingidos pela construção do empreendimento e organizações que procuram mobilizar a população com vistas às transformações que estão por vir, tais como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Este fórum realizou seu primeiro encontro em maio de 2012. De acordo com representante do Sindipetro-RJ em entrevista, antes mesmo da implantação do projeto Agenda21 Comperj, a Petrobras estimulou a organização de grupos e associações dos 14 municípios a formarem conselhos comunitários: “Então cada município criou um conselho comunitário do Comperj, que era composto de ONGs, associações de moradores, rotary clubes, maçonaria, centro espírita, o que você imaginasse, tinha. (...) Cada município tinha uma estrutura com 20, 30 – dependendo do tamanho do município e da importância dele, ele tinha um número maior ou menor de participantes nos conselhos comunitários municipais, que juntos formavam o regional [Conselho Comunitário Regional do Comperj – Concrecomperj]. Então a gente [Sindipetro-RJ] participou disso”.
Entrevista com Edison Munhoz, Coordenador da Secretaria Jurídica do Sindipetro – RJ, Secretário de Meio Ambiente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RJ) e Coordenador Geral do Concrecomperj. Entrevista realizada no âmbito do projeto Observatório do Pré-sal/Ibase, em abril de 2011.
A disponibilidade de uma vasta malha rodoviária e, sobretudo, imediato acesso ao futuro anel rodoviário Itaguaí-Niteroi – do ponto de vista da política ambiental do Estado do Rio de Janeiro, “esta localização foi considerada absolutamente imprópria, seja pelo Conselho Gestor da Apa de Guapimirím, seja pelo Conselho Gestor do Mosaico das Unidades de Conservação da Mata Atlântica Central Fluminense” (2008b: 11). Em 5 de maio de 2011, o jornal O Globo noticiava a construção de barragem no rio Guapiaçu para abastecimento do Comperj, revelando a opção pelo impacto sobre as áreas protegidas, diante das demais alternativas expostas até então. O surgimento de uma alternativa melhor foi anunciada pelo Secretário de Estado do Meio Ambiente, Carlos Minc, durante audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), no dia 30 de maio subsequente, pela “Comissão Especial para Discutir e Construir a Interlocução com os Municípios que Sofrem a Influência do Comperj junto à Petrobras”. A exposição de Minc teve início com a explicação de que a água para abastecer o Comperj não pressionará rios e lagos da região, pois será utilizada água de esgoto tratada. Eloise Botelho, em Dissertação de Mestrado sobre conflitos na gestão do Parque Estadual da Serra dos Três Picos, afirma que, ao reverter a análise dos impactos negativos em positivos, o RIMA desconsidera o problema crônico da questão hídrica regional e passa a responsabilidade de gestão dos recursos hídricos, que é estatal, ao COMPERJ. Além disso, não é possível garantir que a empresa responsável pelo empreendimento irá de fato atender às carências regionais de abastecimento e saneamento. (...)
Segundo o entrevistado, o interesse da empresa era obter uma certificação internacional: “a Petrobras precisava dar uma resposta à ISO 1400018, que dizia que para ter negociado na bolsa de valores de Nova York ações, você tem que fazer esta pesquisa e garantir a participação popular, a aprovação, na verdade, aprovação popular neste projeto.”.
N: Esses conselhos comunitários surgiram então com o apoio da Petrobras?
EM: Sim, com o apoio da Petrobras. Inclusive com dinheiro.
N: Com dinheiro da Petrobras?
EM: Através de ONGs de meio ambiente. Então, ela aproveitou isso também porque não havia nesses locais a Agenda 21 na maioria deles, com exceção de 2 ou 3 municípios. Ela criou a Agenda 21 para facilitar a aprovação de um PLDS [Plano Local de Desenvolvimento Sustentável] que facilitasse o interesse da Petrobras. A Petrobras uniu a necessidade que ela tinha de fazer com que houvesse, por parte da comunidade, o controle social. Ela era obrigada a ter esse controle social. Que pra ela, na verdade, o que interessava, era a participação desse pessoal para referendar. Onde, nos momentos em que realmente houve participação popular, e que se bateu de frente com a Petrobras, ela mostrou a verdadeira face dela, que era de usar como massa de manobra, usar pra assinar embaixo o projeto dela, as comunidades. Isso gerou um grande tumulto com o passar do tempo, porque ficou bem claro que ela não queria muita discussão sobre o tema. Ela queria ser referendada nas possibilidades dela e usar a Agenda 21 local, transformar o local em Comperj, fazer um misto, onde os prefeitos usaram, sempre que eles podiam, para colocar seus pares nesta Agenda 21 local. Isso gerou ações iniciais, gerou mais conflitos, porque ficou muito claro que a ideia não era a participação popular, a ideia era que, gente que tivesse interesse em comum com o projeto, viesse a subscrever, a referendar a proposta da Petrobras. Isso levou algum tempo para ficar claro.”
O discurso desta liderança reforça a constatação de Acselrad de que os conflitos sociais têm sido constrangidos “pelo estreitamento do espaço aberto para sua politização, espaço onde os mesmo poderiam vir a ser trabalhados na perspectiva de ISO 14000 é um conjunto de normas desenvolvidas pela International Organization for Standardization (ISO) e que estabelecem diretrizes sobre a área de gestão ambiental dentro de empresas.
Uma construção crescentemente democrática do território. (...) Tecnologias de formação de consenso são então formuladas de modo a caracterizar todo litígio como problema a ser eliminado. E todo conflito remanescente tenderá a ser visto como resultante da carência de capacitação para o consenso e não como expressão de diferenças reais entre atores e projetos sociais, a serem trabalhadas no espaço público” (2004:29).
Como chama a atenção Leite Lopes, a partir da etnografia de situações como as de conselhos locais, audiências públicas e outras instâncias “participativas” é que transparecem os “efeitos de dominação exercidos pela presença técnica de expertise, bem como o abafamento e a falta de espaço de diálogo com o saber leigo”. Mas ressalta que a “eficácia de conselhos locais de meio ambiente e de programas de Agenda 21 locais geralmente depende da experiência da participação política da população, de sua história de mobilização” (2004:29).
No caso analisado, o entrevistado reconhece que “o Concrecomperj perdeu um pouco de credibilidade e passou a ter uso político, partidário, pessoal que a gente tem tentado no último ano, um ano e pouco, resgatar.” Mas vê o conselho como “uma ferramenta social muito importante, muito boa, que pode ajudar a pressionar o interesse popular.” Segundo o sindicalista, hoje estão mais à frente do Concrecomperj as federações de moradores de Itaboraí, Niterói, São Gonçalo, Nova Friburgo e Maricá, bem como os sindicatos. E enxerga ganhos na apropriação de alguns destes conselhos locais por parte das comunidades: “Em alguns locais, esses conselhos criados pelo Comperj, acabaram virando conselho comunitário local. Maricá é um exemplo. Friburgo é outro. São Gonçalo é outro. Esse conselho do Comperj acabou virando conselho comunitário municipal. Em Maricá, por ser conselho comunitário municipal... Ele tem os sindicatos locais, o Sepe [Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação], Sindipetro, sindicato dos professores, e Sindisprev comunitário, que tem base em
Maricá. São 4 sindicatos, várias ONGs, ele acabou virando um conselhão muito grande.
Hoje não é mais só do Comperj. Em Maricá, o procurador diz que nós somos um governo paralelo. Ele tem tanto peso, é tão grande, tem tantas entidades de peso, que abava virando quase... que fiscaliza o governo. A verdade é essa. Em alguns locais, infelizmente, esses conselhos acabaram sendo trampolim para cargos políticos na prefeitura. Outros não. Outros continuam sendo de luta, mas isso é uma coisa natural da vida.”
O Concrecomperj também tem sido convidado a participar de diferentes conselhos locais, o que é percebido pelo entrevistado como uma estratégia importante para influenciar as políticas públicas de alguns municípios: “A gente tem sido convidado, por alguns prefeitos que fazem parte do Conleste, para participar, por exemplo, do Conselho de Saúde de Itaboraí, de alguns conselhos de meio ambiente municipais, de conselhos de educação, de emprego e renda, para, através desses conselhos, a gente participar do Conleste. É uma participação indireta, mas é importante. Esses conselhos são o que dão, muitas vezes, embasamento para as ações da prefeitura.”
Finalmente, cabe chamar a atenção para a organização e as prolongadas greves dos trabalhadores da construção do Comperj. Trata-se de uma imensa massa de trabalhadores temporários (de acordo com uma liderança ligada ao Fórum Popular Comperj, 18.632 trabalhadores, contabilizados na última reunião de negociação entre o sindicato e os consórcios responsáveis pelas obras – maio/2012; no auge da obra, devem chegar a 32 mil), cuja rotatividade depende das especificidades de cada parte que está sendo construída, relacionadas no cronograma das obras. A imensa maioria dos trabalhadores é do sexo masculino e metade é natural de outros estados do Brasil, especialmente da região Nordeste, segundo informações da imprensa. São contratados por 9 consórcios, cada um deles formados por várias empresas, encarregadas da construção de diferentes partes do empreendimento, segundo contratos de trabalho diferentes. Realizando assembleias que chegam a reunir 10 mil trabalhadores, em um movimento grevista que durou cerca de seis meses (dezembro de 2011 a maio de 2012, com interrupções), os trabalhadores lutam, de uma maneira geral, pelo estabelecimento de um piso salarial para os empregados de diferentes consórcios, pelo direito de retornar para visitar suas famílias com passagens pagas e mais dias de folga, pelo aumento do valor fornecido para as refeições (devido à elevação do custo de vida no local), e buscam responsabilizar a Petrobras pela situação de precariedade na qual se encontram. A presença desta grande quantidade de trabalhadores traz mudanças para o sindicalismo local e sua organização começa a estabelecer um diálogo com o fórum que reúne a população local atingida.
De acordo com uma liderança do Fórum Popular Comperj, organização que estabeleceu uma relação de solidariedade com o movimento grevista, frequentando assembleias e convidando trabalhadores para as suas reuniões, o “sindicato dos trabalhadores da construção civil [de São Gonçalo] é filiado à CUT e não tem tradição de grandes mobilizações ou mesmo paralisações, visto que eles nunca atuaram junto a um canteiro de obra da dimensão do Comperj. Essa situação é visível com as lideranças novas que estão surgindo durante esse período. A grande maioria dessas lideranças não tinha nenhum vínculo com o sindicato.” Assim sendo, é possível observar que o surgimento do Leste Fluminense enquanto região está associado a um projeto hegemônico que reúne interesses governamentais e empresariais em torno do posicionamento do estado do Rio de Janeiro e do Brasil na organização econômica global. Grzybowski bem caracteriza esta conjuntura: não “se trata de mudar substancialmente, mas de crescer e aproveitar-se do momento do “Brasil emergente”, num mundo capitalista de desenfreada competição entre conglomerados e países, onde uns sobem enquanto outros vão para o brejo”.
É possível perceber na região estudada forças que convergem no sentido de adequar a ação de diferentes agentes, vinculados em diferentes escalas, ao projeto hegemônico em processo de implantação na região. Desse modo, governos, populações e organizações locais devem adotar novos procedimentos – como o empreendedorismo, a capacitação, ou o realinhamento e a articulação com outros atores – tanto para colher os benefícios prometidos pelo progresso quanto para denunciar e contestar seus princípios.
De que maneira a criação do Leste Fluminense, de forma hegemônica, modificará as condições, os modos de vida e os pertencimentos de seus habitantes?
Quais segmentos da população local serão beneficiados pelo advento do Comperj e a transformação do Leste Fluminense em uma região industrial? Experiências anteriores mencionadas acima como a região do entorno da Reduc, a cidade de Macaé e a “região de influência” da Bacia de Campos apontam para a ampliação de desigualdades no interior destas regiões, com locais que tendem a se adequar às necessidades de novas elites locais em contraposição a outras partes do território que passam a abrigar bolsões de pobreza e de exclusão.
É possível visualizar uma sociedade civil mais atuante no decorrer das obras e do funcionamento do complexo? Ao mesmo tempo em que há incentivos à participação e à formação de organizações, grande parte dos espaços criados neste sentido tendem a privilegiar o saber de uma expertise em detrimento do saber leigo, restringindo as possibilidades de participação efetiva de determinados grupos. Além disso, as tecnologias de formação de consenso tendem a obliterar contradições estruturais e vozes que se contrapõem ao modelo hegemônico. Por outro lado, o acirramento das desigualdades e dos “impactos negativos”, bem como perspectivas de articulação de grupos locais com organizações e movimentos sociais mais experientes abrem novas perspectivas de lutas.
 
BIBLIOGRAFIA:
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Bourdieu, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil S.A., 1996.
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Grzybowski, Cândido – Megaobras desrespeitam cidadania de operários. Disponível em http://www.canalibase.org.br/grandes-obras-mas-a-cidadania-nem-tanto/
Haesbaert, Rogério. O Mito da Desterritorialização. Do “Fim dos Territórios” à Multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
Herculano, Selene. Desenvolvimento Local, Responsabilidade Socioambiental e Royalties: a Petrobras em Macaé. 2010. Oficina Impactos Sociais, Ambientais e Urbanos das Atividades Petrolíferas: o caso de Macaé. Disponível em http://www.observatoriodopresal.com.br/?p=2386
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Lopes, José Sérgio(Coord.) A Ambientalização dos Conflitos Sociais. Rio de Janeiro: Relume Dumará: Núcleo de Antropologia da Política/UFRJ, 2004, “Introdução”, p.16-38.
Madeira Filho, Wilson. Operários dos Royalties. Oficina Impactos Sociais, Ambientais e Urbanos das Atividades Petrolíferas: o caso de Macaé. Disponível em http://www.observatoriodopresal.com.br/?p=2386
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Modesto, Nilo Sergio D´Ávila – A (re)produção espacial em marcha na consolidação dos Grupos de Poder Hegemônico em São Gonçalo – RJ. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal Fluminense, 2008.
Moysés, Yana dos Santos. A instalação do COMPERJ e a des-re-territorialização da comunidade de Itambi (Itaboraí, Rio de Janeiro): desenvolvimentos e sustentabilidades.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Geografia, Pontifícia Universidade Católica (PUC), Rio de Janeiro. 2010.
Raulino, Sebastião Fernando. Construções Sociais da Vizinhança: Temor e Consentimento nas Representações dos Efeitos de Proximidade entre Grandes Empreendimentos Industriais e Populações Residentes. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Planejamento Urbano de Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ).
Sistema Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). Decisão Rio 2010-2012. Rio de Janeiro, 2010.

Manguezais Ameaçados


Pescadores denunciam casas que ocupam mangue de Atafona, RJ

Cerca de 100 famílias dependem do ecossistema.
Mangue serve de berçário para animais.

Alguns manguezais em Atafona, no litoral de São João da Barra, no Norte Fluminense, foram invadidos por construções particulares. A denúncia é de pescadores e catadores de caranguejos, que dependem do mangue para trabalhar, conforme mostrou o Bom Dia Rio.
 Considerados a maior riqueza do litoral do Brasil, os mangues servem de berçário para diversas espécies e muitas famílias tiram deles o seu sustento. Só em Atafona, cerca de cem famílias dependem do manguezal. O descaso preocupa os habitantes da região.
“Cerca de 25 anos atrás eu pescava aqui, sustentava nossa família com essa pesca aqui. Hoje, você morre de fome, porque não tem o que pescar mais, porque tomaram conta dos manguezais. Se continuar assim, dois anos não tem mais manguezal não”, disse o presidente da Colônia de Pescadores de São João da Barra, Willian Pereira.
 Com ele, a equipe da InterTV visitou pontos que deveriam ser de mangue protegido, mas foram ocupados propriedades particulares, locais fechados com cercas e muros.
Problema começou há 15 anos
Segundos os pescadores, a invasão nos mangues começou há pelo menos 15 anos. Um terreno onde antes era lama, atualmente é só areia, o que impede o crescimento da vegetação e a sobrevivência dos animais. A areia foi levada pela maré cheia, que também carregou muito lixo para a área.
 O pescador Fábio Rosa já participou de mutirões para a limpeza de manguezais e já encontrou diversos tipos de objetos.  “Pneu, garrafa, tubo de televisão, jogam tudo no rio, vai acabando tudo. Vai piorando o manguezal”, disse Rosa.
 A preocupação agora é com o que ainda está preservado. “Eu estou preocupado porque eles tão querendo comprar isso aqui, e daqui a dois anos, eu tenho medo de a gente perder isso. Então, nós estamos brigando com a Secretaria de Meio Ambiente, com o Inea e com o Ibama, para a agente começar a fazer a nossa reserva”, disse Pereira.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Energia e Crise

Ventos de crise no cenário energético.


O panorama energético internacional reflete os efeitos da crise da dívida que afeta a Eurozona, com prognósticos que apontam para uma débil recuperação da demanda mundial de petróleo

Os estudos mais recentes da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) ratificam o entorno adverso para as economias dependentes das vendas do ouro negro.
Com efeito, as previsões apontam para um aumento de 800 mil barris diários no consumo de óleo cru 2013, uns 100 mil a menos em comparação com o crescimento estimado para o atual exercício.
Dessa forma, a Opep fixou a demanda em torno de 89,5 milhões de barris por dia, para um aumento de apenas 0,92 por cento.
Esse comportamento, indicou a entidade, responde - entre outros fatores - à crise da dívida soberana da Eurozona e à debilidade do sistema bancário europeu.
A isso se soma um menor ritmo de recuperação para a economia estadunidense e sinais de desaceleração nos mercados emergentes.
Os dados manejados pela Opep contemplam um crescimento médio da economia mundial de 3,2 por cento em 2013, inferior em um décimo às previsões para o atual exercício.
Nessa própria direção, a Agência Internacional de Energia (AIE) conta com prognósticos mais otimistas, ao considerar que a demanda mundial de petróleo chegará em 2013 a 90,9 milhões de barris diários, para um incremento próximo a um milhão de unidades com relação ao ano em curso.
Para o organismo, esse avanço é superior aos 700 mil barris de aumento correspondentes a 2011 e os 800 mil do exercício de 2012 e inclusive qualificou essa tendência de aceleração.
A AIE indicou que os países asiáticos necessitarão de 21,5 milhões de barris diários de petróleo, o que equivale a um crescimento de 2,9 por cento com respeito ao ano em curso.
Como elemento a destacar, as demandas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) chegarão a 45,1 milhões de barris por dia.
Enquanto isso, os países fora desse bloco demandarão um volume próximo aos 45,7 milhões de unidades.
Contudo, as estimativas da Opep e da AIE estão sujeitas à evolução a curto prazo da economia mundial, onde se ergue como um pesado obstáculo a dívida soberana da Eurozona.
Os especialistas consideram que o Produto Interno Bruto (PIB) do bloco de 17 países vinculados ao euro se contrairá este ano em 0,4 por cento, com aumento mínimo de 0,1 por cento no próximo exercício.
Em matéria de mercado de trabalho, a Eurozona ostenta o triste recorde de desemprego com 11,1 por cento da população ativa afetada.
O efeito contágio da crise já se estende a outras regiões, pois os Estados Unidos mostram um ritmo lento de crescimento econômico, além de um índice de desocupação de 8,2 por cento.
Para os produtores de petróleo o tema é preocupante, pois a economia norte-americana é a maior consumidora de óleo cru e derivados em nível mundial.
Sem dúvida, um pobre comportamento dos indicadores representa menor pressão sobre os níveis de demanda e por conseguinte, cresce o risco de um excesso de oferta nos mercados.
A tendência é ainda mais preocupante com a chegada do verão no hemisfério norte, pois nos Estados Unidos é precisamente a temporada de maior consumo de gasolina.
Também há uma mudança com relação à China, segundo consumidor de petróleo do planeta, que encerrou o segundo trimestre de 2012 com uma expansão do PIB de 7,6 por cento, o pior resultado em três anos.
Com essas condições, a estabilidade do cenário energético internacional passa por uma recuperação da economia, capaz de deixar para trás os diversos fatores que se combinam na atualidade para frear o otimismo no entorno petrolífero.

Por Mário Esquivel
Chefe da redação de Economia da Prensa Latina.
Publicado também em vermelho.org.br